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C990p Campbell, o poder do mito
index do verbete
CAMPBELL, Joseph & MOYERS, Bill. O poder do mito. Trad. Carlos Felipe Moisés. São Paulo: Palas Athena, 1990. Abr.: c990p.
Ver índices analítico e remissivo ao final.
1. — O que é mito.
1 Um mito (abr.: mitologia] é uma máscara de deus: uma metáfora daquilo que repousa por trás do mundo visível.
2 Mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana.
3 O mito é o sonho da sociedade, é o sonho público, e o sonho é o mito privado (p.42].
4 ‘Penso na mitologia como a pátria das musas, as inspiradoras da arte, as inspiradoras da poesia. Encarar a vida como um poema, e a você mesmo como o participante de um poema, é o que o mito faz por você’ (p.57].
(Apolo e o coro das musas)
5 Esse é o tema básico de toda mitologia: o de que existe um plano invisível sustentando o visível.
6 ‘(...] arquetipologia essencial da nossa vida espiritual (...]’ (p. 103].
7 Mito não é mentira: é poesia, é metáfora. É a penúltima verdade: porque a última não pode ser transposta em palavras (p. 173], pode ser conhecida, mas não contada.
2. — Sabedoria de vida
8 ‘(...] a única verdadeira sabedoria vive longe da espécie humana, lá fora, na grande vastidão, e só pode ser atingida através do sofrimento’ (Igjugarjuk) (p.vii].
9 ‘Os fados guiam àquele que assim o deseja; àquele que não o deseja, eles arrastam’ (p. x].
10 O que Joyce chamava ‘o grave e constante no sofrimento humano’ é o tema principal da mitologia clássica. ‘A causa secreta de todo sofrimento (...] é a própria mortalidade, condição primordial da vida. Quando se trata de afirmar a vida, a mortalidade não pode ser negada’ (p.vii].
11 ‘Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos’ (p. 3].
12 As religiões estão de acordo em solicitar de nós o mais profundo empenho no próprio ato de viver. O pecado imperdoável é o da inadvertência, o de não estar alerta, o de não estar inteiramente desperto.
13 O mundo é exatamente como é, ninguém nunca conseguiu melhora-lo e você não vai conserta-lo. Ele nunca será melhor do que é. Portanto, aceite-o ou deixe-o. ‘Você mesmo é um participante do mal, caso contrário não estaria vivo. O que quer que você faça é mau para alguém. Essa é uma das ironias de toda a criação’ (p.68].
14 Toda vida é dolorosa, é o primeiro ensinamento budista. Não haveria vida sem implicação de temporalidade, isto é, dor, perda.
15 Se você tem um lugar sagrado, e se serve dele, alguma coisa eventualmente acontecerá.
16 A iluminação é o reconhecimento da radiância da eternidade em meio às coisas, quer pareçam, na visão temporal, boas ou más (p. 172]. A arte e a religião (viver em regime de compaixão) são os dois caminhos conhecidos para ela. (p. 172]. Você tem de ultrapassar a sua imagem de deus para atingir a iluminação conotada (p. 219]. O fundamento último de todos os seres pode ser experimentado em dois sentidos, num há forma, no outro não há forma, ou ela é excedida. Quando você experimenta seu deus como forma, há sujeito e objeto, sua mente que contempla e o deus contemplado. Mas o objetivo místico final é unir-se a deus, superando a dualidade, não há ninguém, nem deus nem você (p. 220].
17 Só no séc. XII, com os trovadores, o amor aparece como relação entre duas pessoas. Antes tratava-se de eros (arrebatamento, impulso biológico, entusiasmo de órgãos por outros órgãos) e ágape (compaixão). Amor, em latim, é impulso religioso, a mais elevada experiência espiritual, individual, pessoal.
3. — Mitologia e suas origens
18 Os primeiros homens perceberam o mundo sobrenatural, para onde os animais caçados pareciam ir quando morriam. Um ‘senhor dos animais’ mandava de volta as feras para tornarem a ser caçadas. A essência da vida subsiste graças ao matar e comer. Esse é o grande mistério que os mitos têm de enfrentar. A caça tornou-se um ritual de sacrifício, de expiação diante dos espíritos dos animais mortos, para coagi-los a retornar, para serem sacrificados de novo. Havia um mágico acordo entre caçador e caça (vide § 117 infra].
19 Se hoje damos graças a deus pelo alimento, antes de comer, isso é resquício da mitologia primitiva quando as pessoas agradeciam ao animal, que estava prestes a ser comido, por ter-se doado em sacrifício (p. 183]. Nos upanixades uma prece diz: “oh maravilhoso, eu sou alimento, eu sou comedor de alimento”. Hoje não pensamos assim, não nos consideramos alimento, mas isso representa interromper o fluxo, e a liberação do fluxo é a grande experiência do mistério.
(aquiles e pátroclo). Clique no link para ver a imagem em tamanho maior:rel://files/_YPXBL6GZ2GMKWPVM6VEF.jpg
20 Quando passaram da caça ao plantio, as histórias mudaram. A semente se tornou símbolo mágico do ciclo infinito. A planta morria, era enterrada e sua semente renascia. A semente foi incorporada como símbolo pelas religiões: a vida provém da morte e a bem-aventurança do sacrifício.
21 Seqüência dos “caminhos” explicadores das mitologias/religiões: caminho dos animais, caminho da terra semeada, caminho das luzes celestiais, caminho do homem. Os valores mudam conforme as condições que governam a vida. O caçador está sempre voltado para fora, para o animal, de quem sua vida depende. Sua mitologia, pois, é voltada para fora. Um animal é uma entidade total contida dentro de uma pele; quando se mata um animal, ele está morto. Com a mudança da caça para a lavoura, surge a mitologia do plantio, onde a morte da semente faz nascer nova planta, e o corte de um ramo faz nascer novo ramo, há uma contínua realimentação do ser, da decomposição surge a vida: a mitologia é orientada para dentro: a relação é de interioridade, e a noção de morte não é mais de morte propriamente, porque a morte é necessária a uma nova vida.
22 A primeira evidência de qualquer coisa parecida com pensamento mítico está associada à sepultura (p. 75].
4. — Mitologia hoje
23 George Lucas imprimiu a mais nova e poderosa rotação à história clássica do herói (...] é o que Goethe disse no Fausto – a mensagem de que a tecnologia não vai nos salvar. Nossos computadores, nossas ferramentas e máquinas, não são suficientes. Temos que confiar em nossa intuição, em nosso verdadeiro ser.
24 É preciso criar uma nova mitologia, planetária, supranacional.
25 Os rituais na vida moderna perderam sentido. O presidente dos EUA usava cartola na posse e nos compromissos oficiais, um traje que não era o do dia-a-dia: sua aparição obedecia a um ritual. Hoje ele é um qualquer, uma pessoa comum, dessacralizada. A missa era celebrada em latim, uma linguagem ritual, que o lançava para fora da esfera do cotidiano: o altar estava virado, e o sacerdote de costas para a público, tudo se dirigia para fora, para o transcendente. Hoje a missa é rezada na linguagem comum do dia-a-dia, e o padre, de frente para a o público, parece um colegial fazendo uma demonstração: tudo caseiro e pequenino. Os rituais, que antes representavam (dramatizavam?) uma realidade interior, hoje não passam de formalidades (p. 88-89]. Esqueceram-se que a função do ritual é lança-lo para fora, e não leva-lo de volta ao lugar onde você tem estado o tempo todo.
26 Na catedral medieval não havia a preocupação da visibilidade, muitas eram construídas em forma de cruz, com o altar no meio, porque é uma estrutura simbólica; não havia a preocupação da visibilidade porque a maior parte do que acontecia, acontecia fora do alcance do seu olhar: o símbolo é que era importante, não o espetáculo, que todos já conhecem de cor. As igrejas modernas são como teatros, a visibilidade é crucial.
27 O mito deve ser mantido vivo, e as pessoas capazes de o fazer são os artistas (eles pintam os muros, encenam os rituais), cuja função é mitologizar o meio-ambiente e o mundo.
cronos devora um de seus filhos ([Goya])
28 A sociedade precisa da mitologia, porque precisa de uma constelação de imagens suficientemente poderosa para reunir, sob uma mesma intenção, todas as tendências individualistas (p. 142].
5. — Mitologia e religiões.
29 Há dois tipos de mitologia (abr.: mitologia]: uma orientada para a natureza de que você é parte (predomina entre os povos que se dedicam ao cultivo da terra), e outra estritamente sociológica, que te liga a uma sociedade, um grupo em particular. O sistema socialmente orientado é geralmente o de povo nômade, você aprende que seu centro se localiza nesse grupo. A tradição bíblica é desse segundo tipo: no pensamento bíblico vivemos no exílio.
30 A sociedade é sempre patriarcal, mas a natureza é sempre matrilinear (p.108].
31 A Queda: a mente humana se dissociou de deus. Se você rejeita a idéia de queda do paraíso, o homem não está separado de sua fonte: não há revelação especial, nem ela é necessária, porque a mente do homem, livre de suas falibilidades, é capaz de compreender deus. (p.26] (vide § 122 abaixo]
32 Para a mitologia bíblica deus está separado da natureza, e a condena: estamos destinados a ser os senhores do mundo (p.32]. Os primeiros reis hebreus faziam sacrifícios no topo das montanhas (na natureza), mas o culto a jeová surgiu como movimento específico, de um deus da periferia do templo contra o culto da natureza, e prevaleceu (p.22]. As tradições judaicas, cristãs e islâmicas menosprezam as religiões da natureza: você se identifica com o bem e luta contra o mal (p.58]. A religião deveria ser um segundo útero, e seu desígnio trazer o humano à maturidade, automotivado, autoconduzido. Mas a idéia do pecado o coloca numa posição permanentemente servil. ‘Se você pensa apenas em seus pecados, então você é um pecador’ (Ramakrishna). ‘Deus contra homem. Homem contra deus. Homem contra natureza. Natureza contra homem. Natureza contra deus. Deus contra natureza — que religião estranha’ (p.58].
33 O deus masculino, pai, geralmente está em alguma parte. Nas religiões em que o deus é a mãe, o mundo inteiro é o corpo dela, e fora daí não há nada (p.52] (vide § 66 abaixo].
34 ‘Uma coisa que se revela nos mitos é que, no fundo do abismo, desponta a voz da salvação, o momento crucial é aquele em que a verdadeira mensagem de transformação está prestar a surgir. No momento mais sombrio surge a luz. (...] Este problema pode ser metaforicamente compreendido como a identificação com o cristo dentro de você. O cristo em você não morre (...] sobrevive à morte e ressuscita’ (p.41].
35 Na bíblia a serpente é o mal, porque isso representa tradição bíblica de rejeitar a vida: a vida é corrupta e todo impulso natural é pecaminoso. A identificação da vida (serpente, mulher) com o pecado é um desvio imposto pela bíblia à história da criação (p.49].
36 Deus é palavra ambígua, pressupõe algo conhecido, mas o transcendente é desconhecido e incognoscível. ‘O mistério da vida está além de toda concepção humana. Tudo o que conhecemos é limitado pela terminologia de conceitos de ser e não-ser, plural e singular, verdadeiro e falso. Sempre pensamos em termos de opostos. Mas deus, o supremo, está além dos pares de opostos, já contém em si tudo’ (p.51].
37 Nossa mitologia se baseia na idéia de dualidade: céu/inferno, bem/mal. Por isso nossas religiões enfatizam a ética (pecado/expiação, certo/errado) (p.58].
Inferno. G. Doré. Clique no link para ver a imagem em tamanho maior:rel://files/_YHH6F7URFEL5HIAN4ZSM.jpg
38 Toda religião é verdadeira, se compreendida metaforicamente. Mas se ela interpretar suas próprias metáforas como fatos, então haverá problemas (p.59]. Aceitar a metáfora como auto-referente equivale a ir ao restaurante, ver a palavra bife no cardápio e começar a comer o cardápio (p.59].
39 Interpretar ressurreição e ascensão ao paraíso como ida para um lugar físico equivalente a paraíso é um erro de leitura do símbolo, é tomar as palavras literalmente, em termos de prosa e não de poesia; é ler a metáfora em termos de denotação e não de conotação. Ascender, aí, é caminhar para dentro, é retornar à fonte, ao espaço interior, para a consciência que é fonte de todas as coisas (p.59]. Despertar para a consciência de cristo, ou do buda, de que todos somos manifestações.
40 A reencarnação é também uma metáfora (substituída, na cristandade, pela metáfora do purgatório). Significa que você é mais do que você pensa, que há dimensões e um potencial de ampliação da consciência não incluído do conceito que faz de si mesmo (p.60].
41 A idéia de vida como provação para libertar-se de uma espécie de prisão só existe nas religiões mais desenvolvidas (p.61].
42 Hegel falou do nosso deus antropomórfico como o vertebrado gasoso (p.65].
43 ‘Tempo e espaço formam as vias sensíveis que moldam as nossas experiências. Nossos sentidos estão limitados pelo campo de tempo e espaço, e nossas mentes estão limitadas pela moldura das categorias de pensamento. Mas a coisa suprema (que não é coisa) com a qual estamos tentando entrar em contato não é limitada desse modo. Nós a limitamos na medida em que pensamos nela. O transcendente transcende todas essas categorias de pensamento’ (p.65]. Ser e não-ser são categorias de pensamento, mas a coisa suprema, seja o que for, está além das categorias de ser e não-ser, ela não é nem não-é, nem é nem deixa de ser, ela é e não-é ao mesmo tempo.
44 Eternidade não é um tempo vindouro, nem sequer um tempo de longa duração. Eternidade não tem nada a ver com tempo. É aquela dimensão do aqui e agora que todo pensar em termos temporais elimina. O problema com o paraíso é que sua vida lá é tão boa que você sequer vai pensar em eternidade. Vai simplesmente experimentar o interminável deleite, na visão beatífica de deus. Mas experimentar a eternidade aqui mesmo e agora, em todas as coisas, boas ou más, essa é a função da vida (p.71].
6. — mitologia e suas funções/dimensões.
45 Quatro dimensões.
46 Função mística: abrir o mundo para a dimensão do mistério, do transcendente, para a consciência do mistério que subjaz a todas as formas.
47 Função cosmológica: mostrar a forma do universo mas de uma forma em que o mistério se manifesta.
48 Função sociológica: dar suporte e validação a determinada ordem social. Dirigir o mundo por princípios éticos.
49 Função pedagógica: ensinar a viver uma vida humana sob qualquer circunstância. (p.32].
50 A conciliação entre a mente humana e as condições da vida é fundamental em todas as histórias da criação (p.44] (Vide § 117 abaixo].
51 ‘Ritual é participação de grupo no mais hediondo dos atos, que é o ato da vida — especificamente, matar e comer outro ente vivo. Fazemos isso juntos, e assim é a vida’ (p.69].
52 Os mitos primitivos ajudam a psique a participar, sem culpa ou receio, do ato necessário da vida (p. 76].
7. — O herói
(Theseus and the Minotaur, Detail of an Attic black-figure neck-amphora by the Castellani Painter, ca. 575 BC–550 BC)
53 ‘Pela superação das paixões tenebrosas, o herói simboliza nossa capacidade de controlar o selvagem irracional dentro de nós’ (p. ix].
54 A proeza do herói pode ser de dois tipos. Física, prática de um ato de coragem, ou salvação de uma vida. Ou espiritual: aprender a lidar com o nível superior de vida espiritual, retornando com uma mensagem (p. 131].
55 A façanha circular (partida-retorno. Périplo: viagem de circunavegação em torno de um país, de um continente. Houaiss) começa com alguém a quem algo foi usurpado, ou que sente estar faltando algo. Essa pessoa parte, se envolve em aventuras que ultrapassam o usual (caminha para o mais profundo, ou mais alto, ou mais distante), passa pela descida às trevas (o ventre da baleia) e ou recupera o que fora perdido, ou retorna com um elixir doador de vida (passando antes pelo impasse de voltar ou permanecer ali). O motivo básico é o abandono de certa condição e o encontro de uma fonte de vida que conduz a outra condição, mais rica e madura.
56 A consciência se transforma por dois caminhos só, o da provação e o da revelação iluminada (p. 134].
57 O herói lendário é normalmente o fundador de algo, uma nova era, uma religião, uma cidade, um modo de vida: para fundar o novo ele deve abandonar o velho e partir em busca da idéia-semente que pode fazer aflorar o novo.
8. — Simbologia e símbolos.
a. Pássaro, serpente e dragão.
58 O vôo do pássaro representa libertação do espírito em relação ao seu aprisionamento na terra, e a serpente representa o aprisionamento na terra. O dragão, a serpente com asas, resolve o conflito, une a terra e o vôo espiritual, e em qualquer lugar as pessoas reconhecem essas imagens.
59 Dragão do ocidente: representa a cobiça, quer juntar, acumular coisas, guarda na caverna secreta pilhas de ouro, virgens raptadas. Não sabe o que fazer com o ouro e a virgem, apenas os guarda. Dragão chinês: representa a vitalidade dos pântanos, libera a generosidade das águas, gloriosa dádiva (p. 158].
60 Sobre o dragão vide também § 99 abaixo.
b. A serpente.
61 O poder da vida leva a serpente a se desfazer de sua pele para renascer, como a lua se desfaz da sua sombra para renascer. São símbolos equivalentes. Às vezes a serpente é representada como um círculo, comendo a própria cauda. É uma imagem da vida, que se desfaz de uma geração após outra, para renascer. A serpente representa a energia e a consciência imortais, engajadas na esfera do tempo, constantemente atirando fora a morte e renascendo. Existe algo horrível na vida, vista desse modo. A serpente carrega em si o sentido da fascinação e do terror da vida.
62 A serpente flui como água e por isso é aquática, mas sua língua dispara fogo, por isso ela reúne um par de opostos (p.49].
63 Vide § 35 acima.
c. Adão e Eva. Homem e mulher. Dualidade.
64 No jardim da unidade atemporal deus, homem e mulher são o mesmo. O conhecimento das diferenças cria a oposição, macho-fêmea, deus-homem, bem-mal. Reconhecida a dualidade, sai-se para o mundo, onde tudo funciona em termos de pares de opostos (p.50].
65 Do som inicial (a palavra, o verbo, a grande explosão), o despejar da energia transcendente para dentro do tempo faz romper aquela energia em pares de opostos. O um se torna dois. Havendo dois, só há três formas de relacionamento possíveis: A domina B, B domina A, ou A e B se equilibram. Diz o Tao Te King: do Tao surge o um, do um surge o dois, do dois o três; do três se originam todas as coisas (p.29].
66 A divisão da vida em sexos foi uma coisa tardia: ameba não é macho nem fêmea, as células primitivas são apenas células. O poder divino é anterior à separação sexual (p.52] (vide § 125 abaixo].
67 A lenda de adão e eva é originada da mitologia sumeriana, que diz que os deuses queriam alguém que cultivasse seu jardim, para isso criaram o homem, e como ele estava entediado criaram os animais, depois do corpo dele extraíram a alma da mulher (p.56-57].
d. Números.
68 Um, dois, três: vide § 64 acima.
69 Nove é o número da descida do poder divino ao mundo. O ângelus soa nove vezes.
70 1132, 11 e 32. Os corpos caem 32 pés por segundo, 32 é o número da queda. 11 é a renovação da dezena, é o número do recomeço, da redenção. Notas de Campbell sobre o Finnegans’ Wake, onde o número 1132 aparece muito. Depois concluiu que se refere à bíblia, romanos 11 32: ‘pois deus condenou todos os homens à desobediência, para que pudesse mostrar sua misericórdia para com todos’.
e. Tetratkys pitagórica.
71 Um triângulo composto de dez pontos, um no meio, quatro de cada lado.
f. Selo de Salomão.
72 (loc. vinc. § 72] Servia para trancar monstros em jarros. É composto de treze pontos dispostos na forma de dois triângulos, que formam a estrela de davi.
a Vide k996m § 13.
g. Arquétipos.
73 O inconsciente freudiano é inconsciente pessoal, biográfico. Os arquétipos do inconsciente de Jung são biológicos, o aspecto biográfico é secundário.
h. Buda
74 Aquele que despertou. Como todos devemos despertar.
i. Esfinge assíria e evangelistas.
fragment of limestone relief from Persepolis, fourth century BCE (image from the British Museum)
75 Nos palácios assírios vê-se um animal híbrido, cabeça de homem, corpo de leão, patas de touro, asas de águia. Quatro signos do zodíaco reunidos para guardas as portas. Os mesmos animais aparecem na visão de ezequiel, e representam os quatro evangelistas. Numa prece cristã antiga se invocam os quatro evangelistas para proteger o leito do crente. É uma mandala, com cada um dos quatro num dos pontos cardeais, o cristo no centro. Os animais representam o véu do espaço-tempo, que o centro rompe para a vinda de deus ao mundo.
Édipo e a esfinge. Clique no link para ver a imagem em tamanho maior:rel://files/_552Q00S2CAIWEPS4UOLK.jpg
76 A esfinge propôs a Édipo um enigma que é a imagem da própria vida através do tempo: infância, maturidade, velhice. Quando você enfrenta e aceita o enigma da esfinge, sem medo, a morte não interfere mais em você, e a maldição da esfinge cessa. ‘O domínio sobre o medo da morte é a recuperação da alegria de viver. Só se chega a experimentar uma afirmação incondicional da vida depois que se aceita a morte, não como algo contrário à vida, mas como um aspecto da vida’ (p. 161].
j. O silêncio
77 O silêncio para além do som é referência ao espiritual. A palavra tornada carne é o primeiro som, para além desse som está o transcendente incognoscível, o grande silêncio (p. 104].
k. O xamã
78 O xamã é uma pessoa, homem ou mulher, que no final da infância ou início da juventude passa por uma experiência psicológica transfiguradora, da qual faz parte o êxtase, e que a leva a se voltar inteiramente para dentro de si mesma. É uma espécie de ruptura esquizofrênica. O inconsciente inteiro se abre, e o xamã mergulha nele (p. 89].
79 Os artistas de hoje, os poetas, são a contraparte moderna do xamã. São eles que devem interpretar a divindade inerente à natureza, transmitir os mitos (p.105].
80 O xamanismo estava presente principalmente nas culturas ligadas à caça, porque são individualistas e exigem habilidades especiais, diferentes do sedentarismo da vida rural, onde o homem apenas espera pela ação da natureza.
81 Cada xamã tinha sua experiência mística, considerava os deuses reveladores ancestrais seus, e praticamente fundava sua própria religião (p.106]. Não era um mero funcionário, como os sacerdotes.
82 A diferença entre um sacerdote e um xamã é que o primeiro é um funcionário e o segundo é alguém que teve uma experiência (p.62]. Uma pessoa que teve uma experiência mística sabe que toda tentativa de expressa-la simbolicamente é imperfeita.
l. Axis mundi
83 O centro do mundo, o eixo do mundo, a montanha do centro do mundo. É o ponto ou pólo central, ao redor do qual as coisas giram. O ponto central é aquele onde repouso e movimento se encontram. Movimento é tempo, e repouso, eternidade.
84 Deus é uma esfera inteligível — acessível à mente, não aos sentidos — cujo centro está em toda parte, e a circunferência em parte nenhuma. O axis mundi, o ponto luminoso que é interseção de todas as linhas, está em mim, e em todos os outros (p. 94].
85 Eliott fala do ponto imóvel do mundo giratório, onde movimento e repouso estão juntos, o centro onde o movimento do tempo e a imobilidade da eternidade estão juntos. É o centro inexaurível, representado pelo graal (p. 228].
m. Catedrais, templos.
86 ‘Você pode ter uma idéia do que enforma uma sociedade pelo seu edifício mais alto’ (p. 102]. Na cidade medieval, a catedral. Do séc. xviii em diante, o palácio do governo. Atualmente, os prédios de escritórios, do poder econômico (vide § 26].
87 A caverna-templo. O templo é uma paisagem da alma, um mundo de imagens espirituais, o ventre materno da vida espiritual, a mãe-igreja. As formas em redor (santos ou animais) estão carregadas de vida espiritual. As cavernas eram os primitivos santuários dos ritos masculinos, onde os meninos deixavam de ser os filhos de suas mães para se tornarem os filhos dos seus pais (p. 85].
n. O arado.
88 A religião matriarcal surge quando surge a agricultura, porque a mulher foi a primeira semeadora, substituindo o papel predominante do homem-caçador. A mulher, que gera e nutre, tem uma magia semelhante à da terra. Mais tarde, com a invenção do arado, nos sistemas de alta cultura, é que o homem reassume a liderança, o papel principal: o arado penetrando a terra se torna uma figura mítica dominante, porque simula o coito.
o. Gêmeos.
89 Nas culturas caçadoras de algumas tribos uma mulher cai do céu e dá à luz gêmeos. Em algumas culturas de plantio a mulher vem da terra. Os gêmeos são geralmente o menino-pedra (a pedra é usada na caça) e o menino-planta.
90 Na bíblia o menino-planta é abel, plantador, e o menino-pedra é caim, o pastor. Tratava-se de uma cultura de caça ou pastoreio. Na bíblia o segundo filho é sempre o vendedor, o bom, porque o caçula é o recém chegado, como os hebreus eram. Caim representa o povo de canaã, que já estava estabelecido e era agricultor.
p. Alma e círculo
91 Platão disse que a alma é um círculo. Desenhei uma linha horizontal atravessando o círculo para representar a linha divisória entre o consciente e o inconsciente. O centro, de onde provém toda a nossa energia, é representado por um ponto, abaixo da linha. Acima da linha está o ego, representado pelo quadrado: é o aspecto da nossa consciência que identificamos como nosso centro. Mas está muito distante do centro (p. 151].
92
93 O mundo todo é um círculo, todas as imagens circulares refletem a psique. O círculo é uma das imagens primordiais da humanidade. Há uma relação entre ele e a real estruturação das nossas funções espirituais. representa também a totalidade: dentro do círculo tudo é uma coisa só. No aspecto espacial, o círculo é limitado. No aspecto temporal, sempre se retorna ao começo, alfa e ômega. Os 360 graus têm origem no antigo calendário sumeriano de 360 dias (mais cinco que ficavam ‘fora do tempo’ e eram reservados a cerimônias de reconciliação com o céu).
94 O círculo aparece em templos indianos, nas gravuras neolíticas da rodésia, nas pedras do calendário asteca, nos escudos de bronze chineses, nas visões de ezequiel.
a Vide k996m § 13.
q. A pomba
95 A pomba em vôo é um símbolo praticamente universal do espírito.
r. O paraíso. Nirvana.
96 O paraíso é o lugar da unidade, da não-dualidade enter macho-fêmea, deus-homem, bem-mal (p. 113]. A volta ao jardim é objeto de muitas religiões. Na porta do paraíso budista — o jardim com a árvore da vida eterna — é guardada por dois guardiões, um com a boca aberta, outro com a boca fechada: são o medo e o desejo, um par de opostos (vide § 193] (p. 113].
97 O paraíso budista é o nirvana, um estado psicológico da mente, no qual você se liberta do desejo, do medo e dos compromissos sociais (p. 170]. O lugar a ser encontrado está dentro de você mesmo, um ponto de quietude dentro de si mesmo, um centro de quietude interior, que deve ser conhecido e preservado, um ponto que pertence à imóvel, que pertence à eternidade, intocado pelo tempo (p. 171]. É um estado da mente, da consciência, não um lugar físico
s. A roda do Devir
98 Símbolo budista, mostra o mundo subjugado pelo senhor da morte. Roda em eterna rotação, com seis raios, representam seis reinos do ser; um raio é o da vida animal, outro da vida humana, outro o dos deuses do céu, outro das almas sendo punidas no inferno, outro o dos demônios beligerantes (antideuses ou titãs), outro o dos fantasmas famintos (almas dos em cujo amor pelos outros havia apego, dependência e expectativa; têm enormes barrigas e bocas diminutas). Em cada reino há um buda representando a possibilidade de libertação. No eixo da roda há três bestas, porco (ignorância), galo (desejo) e serpente (malignidade), são os poderes que mantêm o giro da roda. A borda representa o horizonte que limita a consciência do que é movido pela tríade e subjugado pelo medo da morte (p. 172].
t. O ventre da baleia. A morte do dragão
99 É a descida às trevas, que faz parte do périplo do herói. Psicologicamente a baleia representa o poder de vida contido no inconsciente. Metaforicamente a água é o inconsciente, e a criatura na água é a vida ou energia do inconsciente, que dominou a personalidade consciente e precisa ser desempossada, controlada.
100 O herói no ventre do monstro aquático é variante do tema morte e ressurreição. A personalidade consciente entra em contato com uma carga de energia inconsciente que ela não é capaz de controlar, sem antes passar por provações e revelações na jornada de terror no mar noturno, para aprender a lidar com esse poder sombrio, e depois emergir rumo a nova vida (p. 155].
101 Outra possibilidade é o herói, ao defrontar-se com o poder das trevas, vence-lo e matá-lo, como Sigfried e são jorge. Sigfried teve de provar o sangue do dragão para incorporar seu poder.
102 Psicologicamente o dragão é o atrelamento de si ao seu próprio ego. Estamos aprisionados em nossa própria caverna de dragão. O seu ego é aquilo que você deseja acreditar, o que acha que pode enfrentar, o que você decide amar, aquilo a que você se julga ligado. Pode ser tudo muito pequeno, e nesse caso seu ego o manterá lá embaixo (p. 158] (vide também § 58 acima].
u. deuses
103 Na mitologia ocidental deus é visto como fonte ou causa das energias. Na maior parte do pensamento oriental e também no primitivo os deuses são manifestações e provimento de uma energia, de que não são fontes, mas veículos. O caráter da energia que representam determina sua função (violência, compaixão, proteger um rei ou uma nação). São personificações da energia posta em jogo, mas a fonte da energia permanece um mistério (p. 218].
104 No ocidente há tendência de antropomorfizar, sublinhar a humanidade dos deuses. No oriente os deuses são muito mais elementares, menos humanos e mais semelhantes aos poderes da natureza.
105 O deus pode aparecer como uma espécie de monstro, no papel de destruidor. Dito muçulmano: quando se aproxima o anjo da morte é terrível, mas quando abraça você é uma bem-aventurança. Os budas da meditação aparecem sob duplo aspecto, um pacífico, outro colérico. Se você se apega fortemente a seu ego e ao mundo temporal, a divindade lhe parece colérica; quando o ego se desprende e se entrega, o buda é doador de felicidade (p. 233].
v. O terço e os mantras
106 A repetição da mesma oração no terço é uma espécie de meditação, que leva a mente para dentro de si mesma, prática chamada de ‘japa’ em sânscrito.
w. O inferno
107 Essa é a idéia de bernard shaw, de dante: a punição do inferno é ter, por toda eternidade, o que você achou que queria na terra (p. 201].
x. A sepultura
108 Sepultar alguém é coloca-lo de volta no útero da mãe-terra para que renasça. Quando as pessoas são enterradas o que se visa é o renascimento. Imagens antigas mostram a deusa como mãe recebendo a alma de volta (p. 226].
y. O pescador de homens
109 É um motivo mais antigo que a cristandade. Orfeu é chamado pescador, que pesca homens que vivem na água como peixes, trazendo-os para fora, para a luz. É a idéia da metamorfose do peixe em homem (p. 226].
z. Aum
110 Aum é a palavra que representa aos nossos ouvidos o som da energia do universo, do qual todas as coisas são manifestações. Bem pronunciada, inclui todos os sons vocálicos. As consoantes só aparecem como interrupções do som vocálico essencial. Todas as palavras são, pois, fragmentos de aum, como todas as imagens são fragmentos da forma das formas. O aum te põe em contato com o ser reverberante que é o universo. O aum é chamado a sílaba de quatro elementos, a-u-m e mais o silêncio que precede o início e o reinício. A é o nascimento, u é a vinda ao ser e m é a dissolução que reinicia o ciclo. E o quarto elemento é o silêncio subjacente, o imortal (p. 241].
aa. A mãe, a deusa-mãe.
111 O culto à deusa-mãe é associado à agricultura e às sociedades agrárias. A mãe, como a terra, dá a vida e nutre. A deusa-mãe é a própria terra. O corpo dela é o universo. Nut, a deusa egípcia, é toda a esfera dos céus.
112 Na Índia o símbolo supremo mais comum é o lingam, o falo do deus gerador, penetrando a yoni, a vagina da deusa: indica o mistério da geração da vida.
113 A civilização brotou entre o Tigre e o Eufrates, em sociedades agrárias. Era o mundo da deusa. No 4º séc. a.C. começaram as invasões dos povos pastores, ex-caçadores. Caçadores e pastores são potencialmente assassinos, mesmo porque são nômades que conflitam com os ocupantes das terras que invadem. Logo, seu mundo é o dos deuses guerreiros que lançam raios, como zeus ou jeová. A espada e a morte tomam o lugar do falo e da fertilidade. As mitologias de orientação masculina se tornam dominantes. Surge aí o mito da queda da deusa-mãe tiamat (p. 181] (vide § 154].
114 Nas mitologias indo-européias não houve uma proscrição severa da deusa como na mitologia hebraica. Zeus se casa com a deusa e depois os dois atuam juntos. Só os hebreus chamam a deusa-mãe de canaã de abominação. A subjugação da mulher no ocidente é uma decorrência do pensamento bíblico (p. 182] .
bb. Bodhisattva
115 Compaixão ilimitada, de cujos dedos escorre ambrosia até as profundezas do inferno. A vida é dor, mas a compaixão lhe dá possibilidade de continuar. É aquele que atingiu a consciência da imortalidade por meio da sua participação voluntária no sofrimento do mundo. Participar voluntariamente no mundo é diferente de apenas nascer nele.
116 Pensar em termos mitológicos ajuda-o a se colocar em acordo com o que há de inevitável neste vale de lágrimas. Dizer um sonoro sim ao desafio, à saga do herói, à aventura de estar vivo (p. 173].
9. — Antologia de mitos.
a. Mito da Indonésia.
117 No princípio os ancestrais não tinham sexo, não havia nascimentos ou mortes (vide § 66 acima]. Numa imensa dança coletiva um dos participantes foi pisoteado e morto. O cadáver foi cortado em pedaços e enterrado. Então os sobreviventes foram separados por sexo, para que a morte pudesse ser, desde então, equilibrada pela procriação, e esta pela morte, pois das partes enterradas nasceram plantas comestíveis. O tempo sem tempo acabou, por meio de um crime comunitário, ou sacrifício deliberado. Tinha chegado o tempo de ser, morrer, nascer, matar e comer outros vivos para preservar a vida
118 Uma das funções da mitologia é conciliar a mente com essa pré-condição brutal de toda a vida, que sobrevive matando e comendo outras vidas. A essência da vida, pois, é essa: comer-se a si mesma. A vida vive de vidas (p.44].
b. Dança do transe dos bosquímanos.
119 Serve para revelar o xamã. As mulheres — que vivem separadas dos homens — só se unem a eles na dança ritual. Sentam-se em círculo e marcam o ritmo batendo nas coxas, controlando a dança, porque a mulher é a vida, e o homem é o servidor da vida. Os homens dançam ao redor do círculo, e durante a dança um deles sofre possessão, que se caracteriza por um clarão, relâmpago ou flecha luminosa que sobe da área pélvica, atravessa a espinha até a cabeça.
c. Uma cosmogonia.
120 O deus da identidade disse ‘eu sou’, e assim que o disse sentiu medo, porque passou a ser uma entidade, no tempo, e sentiu-se só.
121 A primeira experiência do feto no útero é o medo. O medo é a primeira emoção que provoca a consciência de existir, a coisa que diz ‘eu’. O feto percebe (‘eu sou’), e sente medo. Sente-se só e sente desejo do outro, e irrompe no mundo da luz, do tempo, dos pares de opostos.
d. A queda e o paraíso.
122 Há um motivo mitológico básico de que na origem tudo era um, e então houve a separação — céu e terra, macho e fêmea, etc.. A doutrina da queda diz que a separação foi culpa de alguém, e deus, furioso, se afastou, de modo que temos de encontrar um meio de restabelecer contato com ele (vide § 31 acima].
123 A idéia do sobrenatural como algo além e acima do natural é uma idéia mortífera, que transformou o mundo, na idade média, numa terra devastada, onde as pessoas perseguiam propósitos que não eram os delas, mas os impostos por leis inescapáveis dos clérigos. Mas o espírito é realmente o buquê da vida, não é algo soprado para dentro da vida, provém da vida. Este é um dos aspectos gloriosos das religiões orientadas para a deusa-mãe, em que o mundo é o corpo da deusa, divino em si mesmo, e a divindade não é algo que se coloque acima da natureza decaída. Mas o mito cristão da Queda do Éden torna a natureza corrompida e, assim, corrompe o mundo inteiro, tornando todo ato espontâneo e natural em pecaminoso (p.105]. Ver meu comentário (§ a abaixo].
124 Vide também o divino pimandro em k996m § 2.
e. Cosmogonia de Aristófanes, no Banquete de Platão
125 No início havia criaturas compostas de partes que correspondem, agora, a dois seres humanos : macho/fêmea, macho/macho e fêmea/fêmea. Os deuses dividiram todos ao meio, e, divididos, buscaram abraçar-se uns aos outros, para reconstruir as unidades originais.
f. O som primordial. Referência ao Big Bang?
126 O som precipita o ar, depois fogo, terra e água, e assim surge o mundo. Todo o universo está incluído nesse primeiro som, nessa vibração, que conduz tudo à fragmentação na esfera do tempo (p.56] (vide § 65].
g. Cosmogonia dos índios do sudoeste norte-americano
127 Havia pessoas, os ancestrais, vivendo nas profundezas, mas não eram verdadeiramente pessoas, sequer sabiam que eram pessoas. Até que uma delas rompe o tabu, e escapa por uma corda até o teto do mundo, chegando por um buraco a um novo mundo, trazendo, depois, os demais.
h. A blasfêmia de jeová, o que pensou que era deus.
128 Um dos problemas com jeová é que ele se esqueceu de que era uma metáfora. Pensou que era um fato. E quando disse ‘sou deus’, ouviu uma voz dizer: ‘você está enganado, samael’, que significa ‘deus cego’, cego em termos da luz infinita da qual ele é uma manifestação histórica, local.
129 Vide § 133.
i. Panteão hindu
130 Shiva, o criador e destruidor do mundo. O senhor cuja dança é o universo. A imagem de shiva dançando: sua dança é o universo. Em seus cabelos há um crânio e uma lua nova: morte e renascimento. Numa das mãos está o tambor que faz o tique-taque do tempo, na outra mão a chama que queima o véu do tempo e abre nossas mentes para a eternidade. Ele é provavelmente a deidade mais antiga venerada no mundo, desde 2500 a.C.. Em algumas representações é um deus terrível, é o iogue arquetípico, é o criador da vida, mas também o que extingue a ilusão da vida.
131 Vishnu, o senhor protetor, o deus adormecido, que dorme no oceano cósmico, e cujo sonho é o universo. Do seu umbigo cresce o lótus, simbolo da divina energia e da divina graça, sobre o qual brahma está sentado. Vishnu no fim do mundo aparece como um monstro devastando o universo.
132 Brahma, o deus criador. Cada vez que ele abre os olhos um mundo se cria, e um indra o governa. Brahma fecha os olhos, e o mundo desaparece. A vida de um brahma dura 432 mil anos, e quando ele morre o lótus desaparece, e outro surge, trazendo um outro brahma. Em cada galáxia há um lótus, e um brahma, abrindo e fechando os olhos, criando mundos.
j. A blasfêmia de Indra
133 Indra, salvando a terra, achou-se grandioso, e chamou o melhor deus-carpinteiro para construir um palácio à sua altura. Mas o queria tão colossal que o carpinteiro foi queixar-se a brahma, que pediu ajuda a vishnu. Este apareceu a indra na forma de um menino negro-azulado, e diz a indra que houve incontáveis indras antes dele, neste universo, e há incontáveis outros universos com seus indras, e todos ascendem até se tornarem iluminados, e daí se acham grandiosos e se transformam em formigas, para começarem de novo o caminho da iluminação.
134 Vide § 128.
k. O cristo
135 O tema da morte e da ressurreição é motivo comum em muitos mitos, como o do rapaz de que morre para dar origem ao milho, ou os relacionados com os sacrifícios humanos seguidos da antropofagia: o ritual é a repetição do ato original de matar um deus , que gera alimento; come-se o deus sacrificado para incorporar suas propriedades, para que ele atue dentro de você (eucaristia).
136 O mito do cristo é sublimação de uma imagem vegetal muito sólida. Ele pende da cruz, um fruto na árvore. O buda fica sentado sobre a árvore. A árvore sempre representa a árvore da vida imortal, o paraíso da unidade (vide § 122 acima].
137 A idéia da morte para gerar vida é recorrente em todos os mitos. Em nenhum deles a morte é rejeitada. Os maias jogavam bola para que o capitão do time vencedor ganhasse o direito de ser imolado. No leste do Canadá, séc. xvii, o inimigo capturado pelos iroqueses ia para o ritual de sua tortura e morte cantando e celebrando feliz, e gozando do respeito dos captores, porque ia se converter num deus sacrificial.
138 (loc. vinc. § 138] Três interpretações para o cristo. 1) o pecado original condenou a humanidade ao mal, e deus deu seu filho como resgate ao diabo. 2) só um sacrifício tão importante quanto o pecado original poderia aplacar a ira de deus, logo, não bastava o sacrifício de um homem comum. 3) Abelardo: cristo é sacrificado para evocar no coração do homem a compaixão pelo sofrimento do outro, afastando-o dos interesses grosseiros do mundo material. O injuriado se torna salvador.
139 A terceira tese evoca a lenda do rei ferido do graal, que está ali para evocar a compaixão.
140 O tema da morte e ressurreição de um deus é recorrente: átis, adônis, gilgamesh, osíris.
141 A data escolhida para nascimento de cristo é a do solstício de inverno, o dia em que as noites começam a ficar mais curtas e os dias mais longos. E a mesma data do nascimento de mitra, deus persa da luz, o sol (p. 188].
a Vide k996m § 21.
b Vide Galileu abr./2007 nº 89 p.35 et seq.. Vide breve resumo em (S009r § 1 et seq.].
l. Lenda dos índios Pima
142 Quando o mundo é criado, o salvador emerge do centro da terra e conduz o povo do subsolo para o mundo. Mas eles, depois de salvo, o matam, não uma, mas muitas vezes, a ponto de pulveriza-lo, porque cada vez que é morto ele revive. Então, enfim ele se dirige a uma montanha onde as trilhas são tão confusas que é impossível segui-lo. A menos que o buscador conheça o segredo do labirinto (p. 122].
m. Quixote
143 A história se passa numa época em que surge uma interpretação mecanicista do mundo, de forma que o meio não fornece mais respostas espirituais ao herói. Ele busca gigantes, encontra moinhos de vento. Mas ele preservou a aventura para si mesmo, ao criar, de forma poética, um mundo imaginário. O mundo se tornou mecanicista, interpretado pelas ciências físicas, pela sociologia marxista e pela psicologia, e não passamos de um padrão previsível de esquemas que reagem a estímulos. O livre-arbítrio foi banido da vida moderna.
n. A menina paralisada
144 Muitas das histórias de fadas evocam a imagem da menina paralisada, que não quer crescer e se tornar mulher, até que o príncipe vence obstáculos (ritos de passagem) e a convence a cruzar o limiar (p. 147].
o. Telêmaco. A busca do pai.
145 Vive com a mãe, e quando faz vinte anos recebe a visita de Atena que o manda sair e procurar seu pai, ulisses. Esse tema é o abandono do ego infantil, da passagem da condição de menino para a de homem, o que envolve separar-se da mãe. O tema da busca do pai, recorrente em muitas histórias (em algumas é um pai místico) é o da busca do eu adulto (p. 147].
146 O cristo na cruz está a caminho do pai, deixando a mãe para trás. A cruz simboliza a terra, a mãe, a quem jesus deixa o corpo que dela recebeu, e a alma vai para o pai, que é a suprema fonte transcendente do mistério (p. 176].
147 Aos 12 anos, ao se perder dos pais terrenos no tempo, jesus diz: estava tratando dos negócios do meu pai. A busca do pai se iniciou na idade da iniciação adolescente (p. 177].
148 A busca do pai é tema recorrente na mitologia. Não há o tema da busca da mãe, porque ela sempre está aí mesmo. Encontrar o pai é encontrar o próprio caráter, e o destino.
p. Gawain e o cavaleiro verde
149 O gigante verde entra da corte de Artur e desafia um dos presentes a cortar-lhe a cabeça com um machado, para, dali a um ano, encontrar-se de novo com ele na capela verde, e ali ter a cabeça cortada pelo gigante. Gawain aceita, decapita o gigante, que levanta, apanha a própria cabeça e se despede. Um ano depois, Gawain vai em direção à capela verde, para cumprir a promessa. No caminho encontra a cabana de um caçador que lhe oferece pouso. Na manhã seguinte o caçador, ao sair, propõe que no fim do dia troquem as presas de suas caçadas. Gawain aceita. Na ausência do caçador, a mulher deste tenta seduzir Gawain. Este resiste, mas aceita receber da mulher um beijo e uma liga. Ao fim da tarde o caçador retorna, dá a Gawain as presas que caçou, e recebe em troca um beijo. Mas Gawain retém a liga. Na manhã seguinte, vai à capela verde, e lá o gigante verde, que é na verdade o caçador, golpeia-lhe o pescoço com o machado, mas faz só um leve ferimento, e diz: “isso é pela liga”.
150 Gawain teve de passar pelos mesmos testes impostos a cristo e buda: as tentações do medo e do desejo.
q. Coração fora do corpo
151 Motivo xamânico padrão em todo mundo. O mago, o feiticeiro, tem o coração fora do corpo, guardado em algum lugar, e por isso não pode ser morto.
r. As tentações de cristo e buda
152 Cristo atinge o limite da consciência do seu tempo, quando vai ao batista para ser batizado. Depois, ultrapassa o limiar e se isola no deserto por 40 dias, quando é tentado três vezes pelo diabo. Primeira: tentação econômica, oferta de transformar pedras em pão para matar a fome. Segunda, tentação política, governar o mundo. Terceira, enfatuação espiritual, atira-te daqui e deus te acudirá, porque és especial.
153 Buda vai para a floresta, fala com os gurus, depois chega à arvore bo, onde é tentado. O senhor da luxúria lhe oferece mulheres, depois o senhor da morte manda um exército de monstros ataca-lo, depois o senhor dos deveres sociais aparece e questiona o buda com os deveres que devia estar cumprindo, mas este apenas toca o chão com os dedos e recebe a iluminação. Três tentações: desejo, medo e submissão à opinião alheia.
s. A queda da deusa-mãe tiamat
154 Data do tempo do surgimento da cidade da Babilônia. A divindade do povo conquistado era a deusa de todas as mães. O povo conquistador venerava marduk. Houve um concílio de deuses masculinos no céu, porque ouviram dizer que a vovó estava chegando, a velha tiamat, o abismo, a fonte inexaurível, ela surgiria na forma de um grande peixe ou dragão. Só marduk teve a coragem de mata-la, esquarteja-la, e com os pedaços do seu corpo morto criou o universo.
155 (vide § 111 acima]
t. Nascimento virginal
156 Não existe tal figura na mitologia hebraica. Para os judeus o messias não é de verdade filho de deus, tal idéia é repulsiva. O nascimento virginal ingressa na tradição cristã pela influência grega: só aparece no evangelho de lucas, que era grego (p. 183].
157 Na mitologia grega: leda e o cisne, perséfone e a serpente, etc.. Na mitologia egípcia ísis engravida ao deitar-se sobre o cadáver de osíris, e desse ato nasceu hórus. Essa mãe divina, cujo filho foi concebido por um deus, é o modelo da madona. Diz-se que o buda nasceu do flanco de sua mãe, localizado no chackra do coração.
158 O nascimento virginal representa metaforicamente o nascimento do homem espiritual a partir do homem animal, o despertar para a compaixão, o renascer espiritual, o morrer para a natureza animal e o retornar à vida como encarnação humana da compaixão (p. 184]. A virgem aparece porque o nascimento e espiritual, o procriador é do espírito: a virgem fica grávida da palavra, pelo ouvido.
159 Vide apuleio (§ 172].
u. Busca do amado ou amada no reino da morte
160 É o tema da divina comédia. Mas ísis também partiu em busca de osíris, o deus morto e perdido, descendo ao reino da morte para resgatá-lo (p. 187].
v. O graal.
161 Numa das versões o graal foi trazido dos céus pelos anjos neutros (aqueles que durante a guerra no céu, entre deus e satã, não tomaram partido). O graal foi trazido pelo caminho do meio, representa o caminho espiritual que se estende entre os pares de opostos, entre medo e desejo, bem e mal (p. 206].
162 O tema da história é que a terra foi devastada: todos vivem uma vida inautêntica, fazendo o que os outros fazem, o que lhes mandam fazer, desprovidos de coragem para uma vida própria.
163 O graal é o que obtêm os que vivem suas próprias vidas: a realização das mais altas potencialidades espirituais da consciência humana.
164 O rei graal é um jovem adorável, mas que não fez jus à posição. Partiu do castelo com o grito de guerra ‘amor’, o que é próprio da juventude, mas não combina com a posição de guardião do graal. Aí aparece um muçulmano (alguém dos subúrbios do éden, um homem da natureza), cuja lança tinha na ponta a palavra graal. Lutam. A lança do rei mata o pagão, mas a lança do pagão castra o rei graal (p. 207]. O graal é a reunião do dividido, a paz que advém da união entre natureza a espírito.
165 Percival foi criado no campo, pois sua mãe rejeitava a corte e suas regras, e o criou ignorando tais coisas. O homem que treinou percival para ser cavaleiro lhe ofereceu a filha em casamento. Percival recusou, disse que tinha de merecer, e não ganhar, uma esposa. Quando chegou ao castelo do graal, encontrou o rei ferido. A compaixão o instigava a perguntar ‘o que lhe atormenta?’, mas percival não o faz, porque as regras da cortesia do cavaleiro ensinam a não fazer perguntas desnecessárias, por isso a aventura falha. Ele tem de vagar mais cinco anos por provações até que volta ao castelo e faz a pergunta, que cicatriza a ferida do rei e do mundo. A pergunta é a expressão da compaixão, não das regras da sociedade.
166 Vide § 170 abaixo e § 85 acima.
w. Satã
167 Na visão islâmica satã foi lançado ao inferno por ser o maior dos amantes de deus. Quando criou os anjos deus lhes disse que não se curvassem a ninguém, senão a ele. E quando criou depois o homem criou algo superior aos anjos, e mandou que o servissem. Mas satã recusou-se a reverenciar o homem, só queria se curvar a deus. Na versão cristã, isso revelava orgulho de satã, mas na islâmica era prova de amor de satã por deus. Satã é amante de deus e permanece no inferno para ser fiel à ordem dele, embora a ausência do amado seja o pior tormento infernal (p. 214].
x. Tirésias
168 Tirésias caminhava pelo mato, viu duas serpentes copulando, tocou-as com seu cajado, virou mulher. Anos depois, de novo viu as serpentes copulando, tocou-as com o cajado, tornou a ser homem. Quando zeus e hera discutiam sobre quem sentia mais prazer no sexo, homem ou mulher, chamaram tirésias, que respondeu que era a mulher, nove vezes mais. E hera, que não gostou, cegou tirésias. E zeus, para compensa-lo, deu-lhe o dom da profecia. Mais tarde, quando ulisses desce ao mundo das sombras por circe, é iniciado por tirésias, que lhe dá consciência da unidade entre masculino e feminino.
y. Joachim de floris e as três idades do espírito
169 Entre a queda do paraíso e o nascimento de cristo foi a idade do pai (e de israel), a preparação de uma raça de sacerdotes (israel) para ser veículo da reconciliação. Nascido o cristo, vem a idade do filho (e da igreja), quando toda a humanidade, e não só uma raça, deve receber a mensagem espiritual. Por fim, vem a idade do espírito sando, que fala diretamente ao indivíduo: qualquer um que encarne a mensagem da palavra se equipara a jesus. Assim com israel se tornou arcaica com o advento do filho e da igreja, esta se torna arcaica com o advento da experiência individual (p. 209].
170 Isso é o que subjaz à demanda do graal. galahad é introduzido na corte de artur no dia de pentecostes (descida do espírito), trajado de vermelho (o espírito apareceu aos apóstolos no pentecostes sob a forma de fogo). Cada um de nós pode ser galahad, cada um pode ser o iluminado.
z. Exu
171 Deus trapaceiro da nigéria. Caminha pela estrada usando um chapéu azul de um lado, vermelho de outro, para provocar confusão. Os trabalhadores de um lado da estrada se desentendem com os do outro lado acerca da cor do chapéu do deus. Causador de confusão como a serpente bíblica.
aa. O asno de ouro de apuleio.
172 Uma das novelas mais antigas. O herói, graças à luxúria e à magia, foi convertido em asno, e deve enfrentar aventuras penosas e humilhantes até conseguir a rédenção. Ao fim ísis, dá-lhe uma rosa (símbolo do amor divino) para comer, e ele renasce como um novo homem, um homem iluminado. Experimentou o segundo nascimento, o espiritual, virginal.
bb. Surgimento da agricultura
173 Lenda dos algonquinos (indígenas da América do Norte que se distribuíam desde o Labrador até as montanhas Rochosas). Um menino teve uma visão onde lhe aparecia um rapaz, com a cabeça ornada de plumas verdes, desafiando-o ao combate. O menino vence o rapaz das plumas, e, na visão, recebe instrução para enterrar o corpo. No lugar do sepultamento surge o pé de milho.
174 Numa lenda polinésia, uma moça é seduzida por uma enguia que se transforma em rapaz, faz amor com ela e a instrui para matar a enguia e enterrar-lhe a cabeça num certo lugar. Naquele lugar nasce o coqueiro.
10. — Frases
175 ‘Tome cuidado para que, ao se desfazer dos demônios, você não se desfaça do que há de melhor em você’ (Nietzsche).
176 ‘A história é um pesadelo de que estou tentando despertar’ (James Joyce).
177 ‘A heroicidade do ato de nascer faz jus ao respeito e apoio de toda a comunidade’ (Otto Rank) (p. 133].
178 ‘A religião é uma defesa contra a experiência de deus’ (Jung) (p. 219].
179 ‘pedro sacou sua espada e cortou a orelha do servo, e jesus disse: ‘guarda tua espada, pedro’. Mas pedro continuou com sua espada e seu trabalho, desde então’ (p. 221].
180 ‘Todas as coisas são metáforas’ (Goethe) (p. 241].
11. — Palavras
181 Ntum: o poder sobrenatural (bosquímanos).
182 Samael: deus cego.
183 Maya: ilusão.
184 Amor fati: amor pelo seu destino, pela sua própria vida (Nietzsche).
185 Linga, ou lingam: o falo do deus gerador (mitologia hindu).
186 Yoni: a vagina da deusa-mãe (mitologia hindu).
187 Chakra: círculo, esfera. Centro simbólico associado a algo.
188 Mandala: círculo, em sânscrito.
189 Religião: religio, religar.
12. — Miscelânea.
190 As pessoas reivindicam a terra criando sítios sagrados, mitologizando,investindo a terra de poderes espirituais, ungindo o lugar onde acreditam que se localiza a energia que os fortalece, transformando a terra num lugar espiritualmente relevante (criação de sítios sagrados, construção da igreja do conquistador sobre a ruína da igreja do conquistado).
191 Para joyce a experiência estética não o leva a querer possuir o objeto. A um trabalho de arte que o leva a querer possuir o objeto representado ele chama de pornografia. A experiência que provoca a crítica ou rejeição do objeto é didática ou crítica de arte (p. 231]. A epifania ocorre quando a experiência estética provoca a emoção associada ao belo, ou ao sublime (que não precisa ser belo, pode até ser terrível).
13. — Meus comentários.
a. Referente a § 122, natureza corrompida.
192 Logo, se a natureza é corrompida, todo ato natural é corrupto. E o homem, que nasce de um ato natural corrupto, nasce corrompido, decaído. Precisa ser absolvido pelo batismo, para curar-se da sua natural e congênita corrupção. Assim como o ato sexual que gera a vida tem de ser previamente autorizado pela igreja, para livrá-lo do seu caráter corrupto. Os sacramentos, assim, seriam rituais de purificação de atos naturais e naturalmente corruptos.
b. Referente a § 122 acima (queda e paraíso).
193 Vide estes excertos:
194 ‘As emoções primitivas são o medo, a cólera e o amor, ligadas, respectivamente, à tendência defensiva, à tendência ofensivo-agressiva (ambas decorrem do instinto de conservação individual) e à tendência reprodutora (ligada ao instinto de conservação da espécie)’ (ficha de leitura de Mira y Lopez, Psicologia Jurídica, Index indivíduo 317 ~fl 1 § 57].
195 ‘Id. Prazer. Gozo irracional. Fundamentalmente irracional e inconsciente. Forças provenientes do fundo orgânico-ancestral. Orientadas no sentido hedonístico. Representadas por dois grupos de instintos: a) tânato-destruidores, sado-masoquistas ou de morte, e b) criadores, vitais, expansivos e libidinosos’ (Index indivíduo 317 ~fl 1 § 18].
196 Os querubins que nos mantém fora do paraíso são as tendências instintivas mais naturais e elementares, o id, medo e desejo, eros e tânatos.
Índice remissivo
Abelardo, 25
adão e eva, 12
Adão e Eva, 12
ágape, 5
agricultura, 16, 20, 31
água, 12, 18, 23
amor, 33
anjo da morte, 19
antideuses, 18
apuleio, 29, 31
arado, 16
Aristófanes, 23
arquétipos, 13
Arquétipos, 13
arte, 4, 5
artistas, 7, 14
artur, 31
asno de ouro, 31
asteca, 17
aum, 20
Aum, 20
Axis mundi, 15
bernard shaw, 19
bíblia, 8, 13, 16
Bodhisattva, 21
bosquímanos, 22, 32
brahma, 24
Brahma, 24
buda, 9, 18, 19, 25, 27, 28
Buda, 13, 28
Busca do amado, 29
busca do pai, 26, 27
caça, 6, 14, 16
calendário, 17
canaã, 16, 21
catedral, 7, 15
categorias de pensamento, 9
caverna, 11, 15, 18
Chakra, 32
círculo, 12, 16, 17, 22, 32
cisne, 28
cólera, 33
compaixão, 5, 21, 25, 28, 29
Compaixão, 21
consciente, 16, 18
coração fora do corpo, 27
cosmogonia, 22
Cosmogonia, 23
criação, 5, 9, 10, 33
cristo, 8, 9, 14, 24, 25, 26, 27, 30
cruz, 7, 25, 26
cultivo da terra, 8
dante, 19
deus, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 12, 13, 14, 17, 19, 20, 22, 23, 24, 25, 28, 29, 30, 32
deusa-mãe, 20, 22, 32
deuses, 13, 15, 18, 19, 20, 23, 28
Devir, 18
divina comédia, 29
dor, 5, 21
dragão, 11, 12, 18, 28
Dragão, 11
Dragão chinês, 12
dualidade, 9, 12, 17
Dualidade, 12
Éden, 23
ego, 16, 18, 26
eixo do mundo, 15
elixir, 11
emoções, 33
esfinge, 14
Esfinge, 14
Eternidade, 10
ética, 9
eucaristia, 25
evangelistas, 14
experiência estética, 33
expiação, 6, 9
Exu, 31
ezequiel, 14, 17
Fausto, 7
Finnegans’ Wake, 13
galahad, 31
galo, 18
Gawain, 27
gêmeos, 16
George Lucas, 6
Goethe, 7, 32
graal, 25, 29, 31
Hegel, 9
hera, 30
herói, 7, 11, 18, 21, 26, 31
hórus, 28
Id, 33
igreja, 15, 30, 33
iluminação, 5, 24, 28
inconsciente, 13, 14, 16, 18, 33
Índia, 20
Indonésia, 21
Indra, 24
inferno, 9, 18, 19, 21, 30
instinto de conservação, 33
ísis, 28, 29, 31
japa, 19
jeová, 8, 20, 23
jesus, 32
Joachim de floris, 30
joyce, 33
Joyce, 4, 32
Jung, 13, 32
labirinto, 26
leda, 28
Linga, 32
lugar sagrado, 5
madona, 28
mandala, 14
marduk, 28
Maya, 32
meditação, 19
medo, 14, 17, 18, 22, 27, 28, 29, 33, 34
menina paralisada, 26
metáfora, 4, 9, 23
metáforas, 9, 32
milho, 25, 31
missa, 7
mitologia hindu, 32
mitologia sumeriana, 12
mitra, 25
monstro, 18
mortalidade, 4
musas, 4
nascimento virginal, 28
Nietzsche, 32
nigéria, 31
nirvana, 17
nômade, 8
Ntum, 32
Números, 13
Orfeu, 20
osíris, 25, 28, 29
Otto Rank, 32
paraíso, 8, 9, 10, 17, 22, 25, 30, 33, 34
Pássaro, 11
pecado, 5, 8, 9, 25
pedro, 32
peixes, 20
pensamento bíblico, 8, 21
perséfone, 28
Pima, 26
Platão, 16, 23
poesia, 4, 9
polinésia, 31
pomba, 17
porco, 18
príncipe, 26
psique, 10
queda, 8, 13, 20, 22, 28, 30, 33
Queda, 8, 23
Quixote, 26
Ramakrishna, 8
rei ferido, 25, 29
rei graal, 29
religião, 5, 8, 9, 11, 15, 16, 32
religiões, 5, 6, 7, 8, 9, 17, 22
ressurreição, 9, 18, 24, 25
Ritual, 10
rodésia, 17
sabedoria, 4
sacerdote, 7, 15
Salomão, 13
Samael, 32
são jorge, 18
satã, 29, 30
Satã, 30
semente, 6, 11
sepultura, 6, 19
serpente, 8, 11, 12, 18, 28
shiva, 24
Shiva, 24
Sigfried, 18
silêncio, 14
sítios sagrados, 32
som primordial, 23
sonho, 4, 24
Tao Te King, 12
Telêmaco, 26
Tempo e espaço, 9
tentações, 27, 28
terço, 19
Tetratkys, 13
tiamat, 21, 28
tirésias, 30
Tirésias, 30
ulisses, 26, 30
upanixades, 6
útero, 8, 19, 22
ventre da baleia, 11, 18
vishnu, 24
Vishnu, 24
xamã, 14, 15, 22
Yoni, 32
zeus, 20, 30
ENCYCLOPAEDIA V. 51-0 (11/04/2016, 10h24m.), com 2567 verbetes e 2173 imagens.
INI | ROL | IGC | DSÍ | FDL | NAR | RAO | IRE | GLO | MIT | MET | PHI | PSI | ART | HIS | ???